viernes, 12 de julio de 2013

Bianca Rinaldi e Leon Góes estrelam o clássico rodrigueano.

O universo de Nelson Rodrigues (1912-1980) já é bem conhecido pela família Góes. Os irmãos Moacyr e Leon trabalharam juntos nos espetáculos “Toda Nudez Será Castigada”, “Os Sete Gatinhos” e “Bonitinha, mas Ordinária” – este último também em uma versão para os cinemas. Agora, a dupla encara sua quarta montagem teatral inspirada na obra rodriguena: protagonizada por Bianca Rinaldi, “A Falecida” estreia hoje no Teatro Maison de France, no Rio. Moacyr é responsável pela direção da peça e León faz o par romântico da atriz.

O projeto foi idealizado por Bianca, que também assumiu o cargo de produtora do espetáculo. A própria atriz foi atrás dos direitos e fez a captação dos recursos para a montagem.

– Sempre tive vontade de fazer um texto de Nelson Rodrigues, mas a oportunidade só surgiu agora. Foi o Moacyr, que eu já conhecia de outros trabalhos, quem me sugeriu “A Falecida”. Então o convidei para ser o diretor – lembra a atriz. – Essa é minha primeira produção sozinha, estou nervosa em dobro (risos). Mas é uma montagem muito divertida e leve. Tem aquela dramaticidade pedida pelos textos do Nelson, mas traz uma comédia muito característica também. É impossível não achar graça aquelas situações bizarras e tão fora da normalidade.

Este texto é conhecido como o primeiro das chamadas “tragédias cariocas”, expressão criada pelo crítico Sábato Magaldi para categorizar as obras iniciais de Nelson. Escrita em apenas 26 dias, “A Falecida” teve estreia no dia 8 de junho de 1953, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Com direção de José Maria Monteiro, o espetáculo foi encenado pela Companhia Dramática Nacional.

A peça conta a conhecida história de Zulmira, uma mulher frustrada e sem maiores perspectivas de vida. Invejosa e hipocondríaca, sua única ambição é um enterro luxuoso. O marido, Tuninho, está desempregado e gasta as sobras de sua indenização na sinuca e em apostas de futebol. Ao contrair tuberculose, Zulmira faz um último pedido ao marido: que ele procure Pimentel, o empresário mais poderoso da região, para que ele lhe pague um magnífico enterro. É quando Tuninho faz uma terrível descoberta sobre o passado da mulher.

– Construir esse personagem foi difícil porque ele não é malandro como o Bibelô de “Os Sete Gatinhos” ou louco como Serginho de “Toda Nudez Será Castigada”. Também não é apaixonado como o Edgar ou canalha como o Peixoto, ambos de “Bonitinha, mas Ordinária”. O Tuninho é um cara suburbano, gente boa, tranquilo, com horizontes bem estreitos. Toda sua paixão de vida e perspectiva de felicidade está no Vasco. A personagem da Zulmira é muito mais complexa. Ele não tem muitas questões. Mesmo desempregado, não abandona a cervejinha com os amigos – conta o rubro-negro Leon Goés.

Bianca, que pintou os cabelos louros de preto para viver a personagem, concorda:
– Realmente, a Zulmira é uma alucinada (risos). O mais legal do Nelson é que ele traz a loucura do ser humano à tona, coisas que a gente tenta sempre deixar escondidas. Ela é uma mulher obcecada com a morte. A única coisa que faria sentido na vida medíocre que ela leva é ter uma morte de rainha. E o pior é que é uma obsessão consciente. Ela não precisa ser trancafiada em um hospício, a loucura dela é outra. Não é uma personagem fácil. Passei dois meses me aprofundando e tentando dar meu melhor para ela.

Assinado por Teca Fichinski (vencedora do Prêmio APTR 2013), o cenário do espetáculo é composto por 22 portas de demolição, que preenchem o fundo do palco em dois níveis. Elas abrem e fecham a fim de representar os variados espaços da encenação. No centro do palco, há um praticável com uma rampa, montado em perspectiva como um trapézio. Nas laterais, cadeiras antigas são remanejadas pelo próprio elenco, de acordo com o desenvolvimento da trama. Também de Fichinski, os figurinos se inspiram na estética dos anos 50.

– As pessoas me perguntaram por que eu não usei peruca, mas eu sou o tipo de atriz que veste o personagem. Os figurinos são maravilhosos, trazem uma textura que fica linda no palco. O cenário é magnífico também. Mas é legal ressaltar que cenário e figurino complementam nosso trabalho, mas em primeiro plano vem o texto do Nelson e os atores. Este é um espetáculo no qual o ator comanda tudo – explica Bianca, que estava afastada do teatro adulto deste 2007, quando encenou “Amor de Comédia”.

Os atores Augusto Garcia, Ricardo Damasceno, Sérgio Kauffmann, Daniel Carneiro e Simone Centurione completam o elenco, escolhido por Moacyr. Leon também passou a integrar o projeto por um convite do irmão. Segundo o ator, a convivência entre eles não poderia ser melhor e o excesso de intimidade mais ajuda do que atrapalha.

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